Nos primeiros meses de seu novo mandato, o presidente Donald Trump adotou uma série de medidas de grande impacto, incluindo suas políticas tarifárias. Este artigo explora o que são essas tarifas, quais são os principais afetados e como o Brasil se posiciona diante desse cenário.
O QUE SÃO ESSAS TARIFAS?
Primeiramente, para entender as medidas tarifárias que circulam amplamente na internet, é fundamental compreender o plano de governo de Trump e seus objetivos. Sua política permaneceu praticamente inalterada desde o fim de seu primeiro mandato, em 2021. Nesse sentido, o ponto central de suas medidas é o isolacionismo econômico, perceptível desde antes da imposição das tarifas, por meio de ações como as deportações em massa de imigrantes e a demissão de diversos funcionários do governo. Dessa forma, a ideologia do “Trumpismo” defende que, com o fechamento das fronteiras e o foco total na produção interna, será possível atingir o lema “Make America Great Again”.
Sob essa perspectiva, as tarifas impostas pelo governo Trump têm como objetivo restringir e reduzir de forma significativa as importações. Desde sua campanha eleitoral, ele se mantém firme na proposta de uma taxação universal, que chama de “Política Comercial América Primeiro”. Embora, por ora, essas tarifas tenham poucos alvos, seu plano é expandi-las gradualmente para todas as nações estrangeiras.
AFETADOS PELAS MEDIDAS
No dia 1º de fevereiro, o governo Trump anunciou a imposição de tarifas aos seus principais parceiros comerciais: Canadá, México e China. Como já mencionado, o objetivo dessas medidas é reduzir as importações estrangeiras. O governo dos Estados Unidos determinou tarifas de 25% sobre importações do México e do Canadá e de 10% sobre produtos chineses.
NA AMÉRICA DO NORTE
Inicialmente, os EUA esperavam que o Canadá e o México aceitassem as tarifas sem grandes retaliações, mas ambos os países reagiram imediatamente, ameaçando impor medidas recíprocas contra produtos estadunidenses. Em primeira instância, para entender melhor as críticas internacionais a essas ações, é preciso considerar a relevância desses países para a economia dos EUA. O Canadá é o maior fornecedor de petróleo bruto para os EUA e exporta equipamentos de transporte, metais, produtos químicos e alimentos processados, segundo dados da Administração de Comércio Internacional.
O México, por sua vez, é o maior parceiro comercial dos EUA em termos de importações, fornecendo equipamentos de informática, eletrônicos, maquinário e automóveis para os mexicanos. Após a resposta firme desses países, os Estados Unidos recuaram em relação às medidas e estabeleceram uma nova data, o começo de março de 2025, para que essas medidas sejam discutidas novamente pelos países.
O CASO DA CHINA
Em relação a China, a justificativa do governo estadunidense para as tarifas foi a suposta responsabilidade do país no fornecimento de fentanil aos EUA, agravando a crise dos opioides. Apesar de serem parceiros comerciais importantes, os dois países mantêm uma relação de rivalidade econômica. A China exporta para os EUA uma ampla variedade de produtos, incluindo eletrônicos, maquinário e produtos metálicos manufaturados. No entanto, diferentemente do acordo mais brando feito com o Canadá e o México, a China reagiu com tarifas retaliatórias, impondo impostos de 15% sobre carvão e gás natural liquefeito, além de uma taxa de 10% sobre petróleo, máquinas agrícolas e veículos. Em resposta, os EUA mantiveram a taxação de 10% sobre produtos chineses a partir do dia 4 de fevereiro de 2025.
O BRASIL NESSE CENÁRIO
Embora o plano de Trump preveja a implementação gradual de uma taxação universal, o Brasil inicialmente não era uma prioridade, pois representa apenas cerca de 1% das importações dos EUA. No entanto, em 10 de fevereiro, Donald Trump assinou ordens executivas impondo tarifas de 25% sobre as importações de alumínio e aço, impactando diretamente o Brasil, que é o segundo maior fornecedor desses produtos para os EUA, atrás apenas do Canadá. O governo Trump justifica essa medida como essencial para impulsionar a produção interna.
Apesar da tarifa ainda não ter entrado em vigor, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declarou que medidas unilaterais como essa são “contraproducentes para a melhoria da economia global” e afirmou que buscará uma negociação com os EUA.
IMPACTOS
As ações do governo Trump, mesmo nos primeiros meses de seu mandato, já causam grandes mudanças e controvérsias no cenário econômico global. É fundamental destacar que os impactos dessas tarifas não se restringem aos países afetados, mas também atingem diretamente os consumidores americanos. Embora o presidente busque fortalecer a produção interna, especialistas alertam para as dificuldades dessa transição.
O Instituto Peterson de Economia Internacional (PIIE) concluiu que a proposta de Trump pode causar “danos colaterais significativos” à economia dos EUA, incluindo queda no consumo, aumento do desemprego e desaceleração do crescimento econômico. Um estudo do banco Morgan Stanley aponta que levará ao menos três anos para que a indústria siderúrgica americana consiga expandir sua produção. Assim, tarifas de importação neste momento podem resultar no aumento dos preços ao consumidor.
IMPACTOS SOCIOCULTURAIS
Além das implicações econômicas, há também um impacto no soft power dos EUA, especialmente em relação ao Canadá. O país, que compartilha laços históricos e culturais, é uma nação jovem com uma sociedade igualmente nova, que ainda trabalha constantemente na criação de sua identidade nacional. O Canadá já foi exposto várias vezes por seus cidadãos, ao que eles acreditam ser, uma “cultura norte-americana” e, por vezes, já se viram como “um só” com os EUA. Logo, conflitos políticos e econômicos como esses fazem essa noção de pertencimento e, no contexto mais amplo, o soft power, se enfraquecer. Nas redes sociais, diversos canadenses demonstraram insatisfação, recusando-se a comprar produtos americanos. Isso evidencia como políticas econômicas podem afetar não apenas relações comerciais, mas também a percepção internacional dos EUA.
Por fim, ainda é incerto quais serão os desdobramentos dessas medidas, quem realmente se beneficiará delas e por quanto tempo permanecerão em vigor. No entanto, já é evidente que o governo Trump conseguiu abalar o mercado global logo no início de seu mandato.
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Um comentário
Muito bom. Parabéns pelo texto.