Em agosto de 2023, em Joanesburgo, na África do Sul ocorreu a 15a reunião da Cúpula dos BRICS, na qual os líderes do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul levantaram debates sobre o futuro do bloco. Além da sua expansão, com a admissão de seis novos países, no primeiro encontro presencial do grupo após a pandemia da Covid-19 foi discutida também a criação de uma unidade monetária comum a ser utilizada entre os membros do grupo. Trata-se de um projeto a ser desenvolvido, porém muito promissor aos envolvidos.
CRIAÇÃO DA NOVA MOEDA
Desde sua fundação, em 2006, o grupo funciona como uma forma de reunir essas economias emergentes e tratar de seus interesses comuns em temas como infraestrutura e desenvolvimento de interconexões culturais. Seu objetivo principal é mudar o rumo da política mundial, historicamente centralizada entre os países desenvolvidos do Ocidente, impulsionando e dando destaque na economia global às nações emergentes.
Ao longo do tempo, o grupo passou a se reunir em cúpulas e agregou a África do Sul como país membro, em 2011. As cúpulas são realizadas para que sejam traçadas estratégias para atingir os objetivos comuns e para negociação de tratados e cooperação entre os países. Nesse sentido, a criação da nova moeda surge como uma esperança para que esses países caminhem ainda mais na direção de aprofundar suas relações econômicas e comerciais.
A proposta é que cada membro discuta internamente as implicações econômicas e políticas da BricsCoin e leve seus pontos para a próxima reunião de cúpula, em 2024, na Rússia.
A moeda, caso se torne realidade, será lastreada em ouro e usada para as trocas comerciais entre os países membros. Então, cada unidade de moeda terá um valor que corresponderá a determinada quantidade de ouro físico, com base nas reservas do Banco dos BRICS, o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD).
VANTAGENS PARA OS MEMBROS
Atualmente, o BRICS representa 40% da população mundial e quase 26% do PIB global e a tendência é que o grupo ultrapasse o G7 nos próximos anos. Portanto, esse crescimento econômico é perigoso e desperta o medo das grandes potências, especialmente dos EUA. A utilização predominante do dólar no comércio mundial é usada pelo país como mecanismo político de manter sua hegemonia e impedir que seu espaço seja ocupado por outros agentes. Por essa razão, se desvencilhar da necessidade do dólar para as transações internacionais, financeiras e comerciais do bloco representa uma autonomia necessária para que os países cresçam sem medo de sanções, uma verdadeira “liberdade para negociações”.
A possibilidade de comercializar sem o uso do dólar é ainda um passo na despolarização do Comércio Exterior e exploração de novos mercados e estabelecimento de acordos que beneficiem os países emergentes. Quebrar a soberania incontestável do dólar simboliza a multiplicidade de agentes econômicos no cenário global. Em nações que buscam seu desenvolvimento e crescem economicamente, há muitas oportunidades a serem exploradas.
Nessa perspectiva, a criação do BricsCoin facilitaria os trâmites comerciais e beneficiaria muito os membros, os quais não precisariam mais de reservas de dólares, pelo menos para as transações com os demais países do grupo. Porém, é importante salientar que todo esse processo de estruturação da moeda até que seja de fato colocada em prática será demorado e precisa ser pensado minuciosamente para que cumpra o objetivo, no qual os líderes dos BRICS enxergam muitas oportunidades de futuro.
Pensar o mundo em transformações no século XXI significa reconhecer as configurações internacionais e agir em prol da mudança dos paradigmas e do desmantelamento de estruturas reconhecidas como obsoletas.
