A eleição de Joe Biden para a presidência dos Estados Unidos, em 2020, colocou como uma certeza de que o mandato anterior de Donald Trump (2016-2020) havia sido uma tendência passageira, fruto de um contexto político marcado por incompreensão e por um desejo de soluções radicais, mas que logo foi dinamitada por uma administração mais liberal e austera. A nova eleição do republicano, no entanto, mostra que a ‘’tendência’’ é na verdade a nova regra, e que o momento é de recrudescimento de tudo que havia se sucedido no passado. Várias medidas adotadas por Trump percorreram os noticiários nas últimas semanas: a saída do país de diversos acordos multilaterais, a política de deportação em massa de imigrantes indocumentados, a imposição de tarifas e a volta da ameaça de intervenção tem gerado perplexidade. Mas o que elas significam exatamente:
A REORIENTAÇÃO DA POLÍTICA EXTERNA DOS EUA SOBRE TRUMP
A política externa de Trump é estruturada pelo slogan ‘’América em Primeiro Lugar’’, e tem como principal retórica a deterioração do multilateralismo para as Relações Internacionais. Nessa nova visão, os Estados Unidos teriam se prejudicado ao adotar uma política externa solidária e multilateral, afetando sua posição no sistema internacional para alavancar outros países. Por isso, a administração vem revendo sua participação em tratados, acordos e organizações que consideram dar vantagens excessivas a outras nações.
Entendemos isso quando levamos em conta que a maior parte do seu eleitorado provém de áreas do interior afetadas pela dispersão da cadeia produtiva do país para o México e para o Leste Asiático, principalmente à China, além de contar com trabalhadores de setores que não dependem diretamente das relações internacionais. A campanha do republicano tem, portanto, calcado apoio a partir de um discurso no qual o multilateralismo é apresentado como principal flagelo para a posição dos EUA no cenário mundial e para o declínio das condições do cidadão médio.
Entre os acordos revistos já nos primeiros momentos de seu mandato estão as retiradas do país de organizações e tratados bem relevantes: da Organização Mundial da Saúde (OMS), organização funcional do sistema ONU que articula políticas de saúde a nível mundial, do Acordo de Paris, que prevê medidas para frear as mudanças climáticas, e do Conselho de Direitos Humanos da ONU. A retirada de um país como os EUA, que tem relevância econômica e geopolítica indubitável, enfraquece portanto a eficácia dos tratados como um todo.
No caso da OMS, pela contribuição financeira que deixará de ser paga e que era a maior dentre todos os países-membros e, no caso do Acordo de Paris, porque as chance de mitigar os impactos dos novos eventos climáticos caem drasticamente, devido o país ser considerado o segundo emissor de gases efeito estufa e de dióxido de carbono do mundo.
OS IMIGRANTES E AS MEDIDAS TARIFÁRIAS
Nesse contexto, o afastamento do multilateralismo é subproduto de uma unificação nacional baseada no discurso xenofóbico e fortalecimento de discursos de superioridade racial. Isso tem afetado imigrantes de países latinos, africanos e asiáticos, se sobretudo apresentam um elemento que virou alvo do intento nacionalista, a ilegalidade. Imigrantes não documentados estão sendo alçados à categoria de criminosos comuns e sendo deportados em condições questionáveis. Países como México e Colômbia recusaram voos de repatriação em condições que julgaram ferir direitos humanos de seus cidadãos, a exemplo da prática do uso de correntes nos pés e barriga. A fiscalização dentro dos EUA também se intensificou e pessoas estão sendo presas a caminho do trabalho, na escola, nos supermercados e até dentro de igrejas.
Tudo isso cria um ambiente de divisionismo entre cidadãos comuns, que podem aderir a comportamentos persecutórios que colocam em risco a integridade física de outrem. O motivo que embasa a perseguição de Estado a imigrantes é velha no primeiro mundo: ela tem como objetivo canalizar nos estrangeiros a culpa pelos problemas econômicos que o cidadão comum nativo passa. A economia, portanto, pode ser considerada carro chefe de todas as políticas que a nova administração trumpista vem empreendendo. No que diz respeito a esse campo em si, chamou a atenção o que o público que acompanha os noticiários chamou de tarifaços, cujo os principais alvos são a China, que teve taxação de 10% anunciada, e o Canadá e o México, ambos com aumento para 25%. O Brasil, nisso tudo, também foi citado.
IMPACTOS NO BRASIL
O Brasil vem sendo afetado pela nova política externa americana de maneira bem notória. Sendo os EUA abrigo de quase um milhão de brasileiros, uma leva de imigrantes não documentados já foi deportada em direção ao território nacional. Ao contrário dos países supracitados que recusaram aceitar seus cidadãos sob condições controversas, o avião comercial que levava 88 brasileiros de volta foi aceito em 24 de janeiro deste ano com pessoas acorrentadas pelos pés, mãos e barriga, episódio que Macaé Evaristo, ministra dos Direitos Humanos brasileira, classificou como uma violação da dignidade humana. Na toada do protecionismo econômico americano, Trump tem acusado o Brasil de ser um ‘’grande taxador “.
O segundo mandato de Donald Trump, no entanto, encontra um contexto brasileiro bem diverso. Se o governo de Jair Bolsonaro (2019-2022) foi marcado por um unilateralismo assimétrico no qual a identificação política e ideológica com o governo estadunidense era inequívoca, o atual governo Lula (2023-2026) defende uma posição autônoma na política externa baseada no princípio do reconhecimento da soberania e de políticas recíprocas para com outros países, sejam eles do Norte ou do Sul global.
Assim, no que diz respeito ao episódio da deportação, o governo brasileiro afirma que vai pedir esclarecimentos ao governo dos EUA sobre o ocorrido. Já no contexto da ameaça de taxação de produtos brasileiros por parte dos EUA, o presidente brasileiro afirmou que a posição do Brasil será fazer o mesmo com produtos dos EUA. O tema da taxação, no entanto, parece não afetar o Brasil por hora, por não ser prioridade dos norte-americanos, que mantêm uma balança comercial favorável para conosco.
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